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Textos

Fibra de Carbono

Final de tarde na praça, muitos pequenos grupos conversam, saboreando chimarrão, cuidando ou não
crianças das mais variadas idades e animais de estimação.

Com a proposição de muita leitura, que às vezes interrompia por um grito, um latido, percebi um jovem sentado no banco de costas para mim.

Entre uma interrupção e outra, percebia com frequência, o moço se abaixando, como que a arrumar alguma coisa à sua frente.

Noite foi chegando e com a pouca luz larguei o livro, curtindo o entardecer.

Pouco tempo após, o rapaz levantou-se e saiu de trás do banco. Corpulento e sereno, embora sisudo, fitava enternecido alguma coisa no chão. Logo percebi a bengala e a perna mecânica moderna, de fibra de carbono, muito usada por paratletas.

Chamando por um nome que não consegui entender, virou-se lentamente, afastando-se e detrás do banco surgiu um pato branco, majestoso, corpulento, apresentando grande zona de cor cinza, que cobria praticamente todo o dorso em lindo desenho de bordas bem demarcadas.

A um novo chamado, rápido, o pato se colocou ao lado da perna mecânica e saiu caminhando ao lado do rapaz. Em pequenas distâncias parava, e o jovem continuava mais alguns passos, parava, voltando-se para o pato. O pato dava uma corridinha e posicionava-se ao lado da perna mecânica e retornavam juntos a caminhar. Assim foram,tal qual lenta e cadenciada dança, circundando toda praça, com uma elegância e doçura impossíveis de afastar o olhar. Neste movimento gracioso, após longo tempo, retornaram ao mesmo banco e o extenuado paratleta ficou algum tempo sentado a se recuperar.

O pato calmamente permanecia por perto, atento aos movimentos de seu parceiro, sempre ao lado de sua
prótese mecânica. Dali não se afastava.

Uma vez recuperado o rapaz levantou-se, e a dupla foi caminhando poucos metros até um automóvel. O pato ficou parado perto à porta traseira, calmo, quieto, enquanto o garoto acomodou sua bengala no banco da frente. Em seguida o jovem, com dificuldade, aproximou-se do pato e o pegou no colo, sem que ele esboçasse a menor reação; afagou-o, conversou com ele.

O pato foi colocado no banco traseiro, a porta do automóvel fechada. O jovem entrou no carro e juntos partiram.

Oficina Ana Melo

3º Lugar Bronze no “Concurso Poesia e Conto do HCPA 2017”

Jane Ulbrich
27/12/2017

 

 


 


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